O Existencialismo de Sartre: autenticidade como projeto de vida



   O existencialismo de Jean-Paul Sartre é uma filosofia que destaca a liberdade, a subjetividade e a responsabilidade humanas. O pensamento de Sartre se baseia na máxima “a existência precede a essência”, ou seja, o homem não é nada antes de se fazer algo. O ser humano não nasce com um propósito ou com uma essência pré-definida; cabe a cada indivíduo se autodefinir e dar sentido à sua vida por meio de suas escolhas . Dessa forma, a determinação do “eu” é essencial para alcançar a autenticidade.

   Prepare sua xícara de café, aproveite para desacelerar e me acompanhe nessa jornada de autodescoberta.

 1. Autenticidade 

   No contexto filosófico, principalmente no existencialismo, autenticidade envolve aceitar a liberdade de escolha e a responsabilidade por suas ações, vivendo de forma consciente e intencional. Ser autêntico, para Sartre, é assumir plenamente a responsabilidade pela construção de sua própria vida e identidade diante da transcendência das coisas. Desse modo, a autenticidade, enquanto qualidade de ser verdadeiro e coerente consigo mesmo, depende do autoconhecimento - que é sintetizado na busca do "eu" verdadeiro.

2. A busca pelo "eu" transcendente 

   O conceito de transcendência, central na filosofia de Jean-Paul Sartre e exposto no livro "A Transcendência do Ego", se refere à capacidade do ser humano de ir além de si mesmo e superar sua natureza passiva e fechada. Sartre propõe que observemos as coisas ao nosso redor, isso com a finalidade de entender que é impossível compreender completamente qualquer objeto . Por exemplo, podemos observar uma banana de diversos ângulos, mas ainda existem partes infinitas de representação dessa fruta que não podemos acessar, como os átomos e as moléculas que a constituem. Diante disso, Sartre afirma que todo objeto transcende, isto é: todo objeto está além da compreensão humana, inclusive o próprio ser humano.

   Diante de uma realidade transcendente e em constante mudança, nossa mente funciona como uma máquina de raio-X, a qual permite que vejamos a estrutura óssea de forma simplificada a partir de uma imagem bidimensional que não revela todos os detalhes complexos dos tecidos e articulações, ou seja, a mente humana também trabalha com simplificações da realidade devido à incapacidade de acessá-la completamente. O mesmo acontece quando nos observamos: somos reduzidos a uma representação da nossa verdadeira essência. Dessa forma, é impossível descobrir o "eu", porque o "eu" é infinitamente complexo. Então, se existisse um "eu" pré-definido, seríamos incapazes de acessá-lo, por isso Sartre afirma que o "eu" não é algo que você descobre/acessa, e sim algo que você cria. Portanto, cabe a cada indivíduo definir o seu "eu" e trazer sentido à sua própria existência por meio de escolhas individuais.

3. O papel do indivíduo em sua própria existência 

   O existencialismo de Sartre reflete a visão de que a vida humana não possui um propósito intrínseco, universal ou dado por alguma força externa, como Deus, a natureza ou o destino. Desse modo, o pensamento sartreano sugere que cada indivíduo exerça a função de sujeito ativo na construção de sua própria identidade e assuma a responsabilidade intransferível por si mesmo. Cabe, então, a cada um de nós superar o "ser-em-si"- conceito de Sartre referente aos objetos inanimados, que apenas "são", sem possuir consciência ou liberdade- e aceitar a nossa liberdade radical para atingir a autenticidade.

   Em oposição aos objetos, os seres humanos,na filosofia sartreana, são "ser-para-si", isto é: possuem consciência e liberdade para definirem a si mesmos. O "ser-para-si" está constantemente projetando-se no futuro, buscando transformar sua existência. Sendo assim, o papel de cada indivíduo em sua própria existência é o reconhecimento de que somos livres para escolher quem queremos ser, independentemente das circunstâncias externas. Isso inclui aceitar que não existe um "destino" ou essência pré-definida.

Conclusão 

   Por fim, atingir a autenticidade, no sentido existencialista de Sartre, envolve viver de forma consciente, assumindo a liberdade de escolha e a responsabilidade total pelas próprias ações. É um processo contínuo que exige autoconhecimento, coragem e a disposição para enfrentar a angústia que surge da liberdade, pois percebemos que não há verdades universais ou garantias para as nossas escolhas. A autenticidade não é um estado final, mas um compromisso diário com a verdade de quem você é e com os valores que escolheu seguir ao determinar o seu "eu".

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